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O que uma pessoa com epilepsia sente

Adaptação Mental

Posição Correta


Conviver com pessoas com epilepsia, deixa-nos com a sensação de peixes dentro d’água, quando o tema é relacionado a esse transtorno.

A família inteira era epiléptica, então, a minha pergunta era: Quando isso vai acontecer comigo?

Sendo o mais velho, eu me perguntava porque eu não era epiléptico, todos os meus irmãos mais novos eram.

Eu sentia uma necessidade muito grande de entender esse distúrbio, e deu trabalho para convencer o caçula a me revelar alguns detalhes de suas convulsões.

Claro que eu andava observando ele bem de perto, eu imaginava que esses ataques fossem uma forma de desabafo do cérebro.

Eu notei que antes de ter um ataque epiléptico, ele ficava completamente “aéreo”, introspectivo. Seus olhos ficavam fixos em um ponto e sua consciência o abandonava aos poucos.

Observando a epilepsia, é difícil não lembrarmos do transe, superconsciência, sono e até de uma pessoa descontrolada, histérica, mas, nesse caso, é um processo inverso. Enquanto uma pessoa histérica explode, uma pessoa epiléptica torna-se introspectiva, ausente.

Enquanto o meu irmão tinha uma crise epiléptica, eu observava a sua agitação. Na minha idade, entre dez e onze anos, seria difícil não imaginar que aquele menino de apenas quatro anos, não estivesse em uma espécie de desabafo, descarregando um sentimento, uma emoção gerada por um conflito, antes presa no inconsciente.

Não foi difícil também imaginar porque as mulheres tem menos ataques epilépticos.

Quando uma mulher tem um ataque histérico, ela consegue se livrar desse sentimento negativo que tanto atormenta o homem.

Não demorou muito para que eu tivesse os mesmo sintomas, olhar fixo e ausência. Como eu estudava numa das piores classes da escola, carinhosamente falando, eles sempre me livravam do transe, com suas bagunças.

– Acorda dorminhoco! Vá dormir em casa! Como você consegue dormir acordado?

A sensação de alívio, durante a ausência, durante o transe, era indescritível, mas eu não tinha um ataque, meus amigos não deixavam.

Nessa época, eu descobri, na prática, a possibilidade de abortar uma convulsão, em seu estágio inicial. Era como tirar uma pessoa de uma hipnose, difícil era descobrir uma maneira adequada, aos dez anos de idade.

Eu não tinha nenhuma dúvida, enquanto eu estivesse junto aquele bando de loucos, meus amigos, não haveria a menor chance de eu ter uma convulsão.

Eu passei, então, a acompanhar o meu irmão de perto. Quando ele ficava com o olho parado, eu tratava de acordá-lo do transe, só não sei se isso era bom ou mal.

Para mim, estava claro que a epilepsia era um mal necessário, uma forma de descarregar todos os conflitos psicológicos que atormentavam minha mente.

Uma mulher pode ter um ataque de histeria, mas um homem fica sempre com os conflitos mal resolvidos. Pelo fato de eu ser tão explosivo, eu havia sido poupado da epilepsia, pelo menos até aos nove ou dez anos.

Eu tentei passar isso para o meu irmão, mas não era fácil. Fugir de um transe, exigia concentração constante, coisa que nós não tínhamos.

A saída era dar alguns tapinhas no rosto, tentar despertar do transe. Junto aos amigos era fácil, mas quando eu estava só era difícil; se fosse hoje, certamente eu teria usado água fria.

Eu me lembro de um dia em que o meu amigo começou a me bater no rosto, foi o meu transe mais forte. Quando eu estava quase acordando, a professora pediu que ele parasse de bater no meu rosto, justamente quando eu estava acordando.

Enquanto as lágrimas desciam no meu rosto, eu consegui vencer o transe, mesmo sem os tapinhas.

A professora me perguntou se estava doendo muito, respondi que não – Por que as lágrimas? – perguntou-me ela.

– Por um momento, eu achei que seria vencido pelo transe e eu ainda não aprendi a perder – respondi.

Depois de algumas semanas, eu me livrei totalmente daquela falta de concentração, eu nunca mais dormi acordado. Acho que meus irmãos também não, pelo menos em casa, na escola eu não tinha muita certeza.

O tempo passou e, dez anos depois, meu irmão morreu.

Durante a guarda do corpo, todo tipo de gente apareceu. Até as pessoas mais velhas pareciam dispostas a atormentar minha alma. Alguns contavam piadas, outros tentavam chamar a minha atenção.

Na madrugada, a baixaria tomou conta da noite, piadas sujas, meninas que pareciam prostitutas. Muita gente achava que o velório era uma festa, enquanto o meu primo me dizia que estava vendo uma mulher muito “boa” perto da porta.

Foram duas noites sem dormir, na noite anterior eu havia tido um pressentimento, quando me avisaram que ele estava na UTI.

Quando o corpo saiu, eu me recusei a ir até o cemitério, seria preciso muito tempo para eu assimilar a morte dele.

Tranquei a porta do quarto, e senti a minha consciência se esvaindo, enquanto eu estava deitado. Debruçado na cama, eu não conhecia as técnicas de pessoas epilépticas, comecei a me afogar na saliva, mas eu não me importava mais.

Foi quando começaram a arrombar a porta.

– Ele está tendo um AVC – gritava a minha tia.

– Já não basta uma morte nessa noite – gritava a vizinha.

Talvez pela capacidade de controle que eu tinha sobre a epilepsia, mesmo me entregando a ela, ela não me dominou totalmente, daí o motivo de acharem que eu estava com um AVC, na realidade era um princípio de epilepcia parcial e voluntária.

Existem vários tipos de convulsões, minha família tinha convulsão parcial. Eu havia vencido a epilepsia a minha vida toda, mas naquela noite eu não fugi dela, eu precisava sair dali, ir para muito longe.

Depois de passado a crise, alguém me avisou para ir a igreja e ajudar a levar o caixão ao cemitério.

Algumas pessoas, sob pressão, matam, outras se entregam e morrem, mas há também um tipo de pessoa que entra em conflito profundo, sem se decidir, há pessoas que, sob pressão, tem um ataque.

By Jânio

Epilepsia – Quando a mente tem um ataque

agosto 9, 2011 Posted by | Ciências | , , , , , , | 88 Comentários

   

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