A mulher que tinha pinto
Quando eu descobri que minha amiga tinha um nome muito comum no Brasil, Pinto, mas que não deixava de constranger as crianças daquela idade, chamou-me a atenção o fato de todos estarem humilhando-na. Eu sei o que é passar por uma humilhação e senti na pele.
Decidi ir consolá-la, mas isso também não deu certo, estávamos na fase dos clubes da Luluzinha e do Bolinha, menino não pode chegar perto de menina. Ela não gostou da intimidade, olhou para mim e me intimou – Você vai ter de namorar comigo!
Nessas alturas eu já me via envolvido na bagunça da molecada e respondi – Tudo bem, eu namoro, mas se você quiser casar, vai ter de tirar o pinto do seu pai fora.
Ela respondeu furiosa – O pinto do meu pai eu não tiro, não. Se eu tiver de tirar o pinto do meu pai fora, eu não caso!
Uma outra menina, muito encrenqueira, lembrou-me que um dos professores também se chamava Pinto.
– Eu quero ver se você é homem de perguntar o nome para ele – disse ela.
Naquela idade, desafio público era sempre um problema difícil de evitar. Assim, quando o professor chegou, eu fiz a pergunta que quase acabou com a minha carreira de estudante.
– Professor, o senhor é da família dos Pintos?
– Vai se f****! – respondeu ele.
Ninguém acreditou que um professor fosse falar um palavrão daqueles, numa sala repleta de crianças. Eu senti até um frio na barriga.
Pouco tempo depois, o professor veio se desculpar. Ele disse que o nome era o seu ponto fraco.
Eu lembrei-lhe que uma menina também tinha esse nome e que para homem não tinha problema, era mais fácil.
Eu também lembrei-lhe – O nome daquele escritor pode ser mais fácil para as mulheres, mas par os homens, nem tanto.
– Qual escritor? – perguntou-me ele.
– José Lins do Rego, professor, autor de “Menino de Engenho”.
Anos antes, Chico Buarque tinha causado furor com a frase musical: “Joga pedra na Geni; joga b**** na Geni…
A música foi censurada e lembrou a todos que a liberdade no Brasil não era questão de ditadura mas, sim, da própria sociedade.
Vinte anos mais tarde, foi o próprio Governo Federal que teve problemas quando, durante a campanha contra AIDS, houve uma campanha paralela para descobrir como seria chamado o p****, e dessa vez não era um nome, era o próprio caminhãozinho.
O nome escolhido foi Bráulio, mas não demorou para que os Bráulios ricos do país inteiro processassem o Governo. Resultado: toda a campanha teve de ser reiniciada, dessa vez com outro nome.
Também teve aquela vez que a professora perguntou se era justo que a mulher fosse chamada de sexo frágil, mas essa fica para a próxima.
By Jânio
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